quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Crônicas cariocas

Não sei se é uma nova moda... Só sei que as legítimas cariocas da gema, garotas de Ipanema, Copacabana, Leme e Leblon andam desfilando por aí, cheias de graça, no mais tradicional estilo aeróbico inaugurado por Jane Fonda nos anos 1980. Traduzindo: meião esticado até os joelhos por cima da legging colada ao corpo. Na dúvida, aderi. Não foi uma escolha estética. O visual, de gosto duvidoso, definitivamente não me atrai. Também não foi para estar em dia com as últimas tendências do mundo fashion. Fashionistas de plantão que me desculpem, mas estou pouco me lixando para esse tipo de coisa. Minha adesão ao modismo retrô tem um motivo exclusivamente pragmático, para não dizer, paranoico: medo da dengue!

É isso mesmo. Nada de glamour. Noia total. Afinal, “seguro morreu de velho”, já dizia minha finada avó, com toda a sabedoria dos ditados populares. Quem circula pelos logradouros da dourada zona sul da cidade mais-que-maravilhosa deve saber do que eu estou falando. É uma infestação assombrosa. Em alguns pontos de Copacabana se formam verdadeiras nuvens de mosquitos pairando sobre as calçadas, em pleno sol do meio-dia, só aguardando a oportunidade de “fazer uma boquinha” – à noite também! Tanto que outro dia desisti de assistir a uma peça quando me vi acompanhada de vários integrantes da família Aedes na fila do teatro. Vade retro. Deus me livre e guarde. Os descendentes dos culicídeos que me perdoem a indelicadeza. Sei que são cosmopolitas, e talvez também apreciem as artes cênicas, mas dispenso sua companhia. Prefiro ficar só.

O que mais me intriga é a tranquilidade das pessoas ao meu redor. Ninguém, além de mim, demonstra inquietação, ninguém parece se importar com a presença ameaçadora dos transmissores potenciais do vírus dengoso. O que faz essas criaturas se sentirem tão tranquilas? O que elas sabem que eu não sei? Ó, enigma. Confesso que, além de estupefação, me causa certa inveja esse ar blasé dos passantes. Quem me dera caminhar despreocupadamente pelas ruas. Sem conseguir alcançar o misterioso segredo de tamanha serenidade alheia, só me resta fugir dos mosquitos como o diabo da cruz. Basta eu avistar a sombra de um deles se aproximando para acionar rapidamente minha estratégia de fuga. Modéstia à parte, sou boa nisso. Nenhum deles conseguiu me pegar. Bingo!

Por segurança, não saio de casa sem antes tomar medidas drásticas: me cobrir dos pés à cabeça – a despeito da temperatura acima dos 30 graus lá fora – e borrifar boas doses de spray repelente nas únicas partes descobertas do corpo, ou seja, apenas mãos e pescoço (o rosto não conta porque, estando com os olhos bem abertos, é possível monitorar qualquer tentativa de ataque pela linha de frente). Com isso me sinto mais protegida e preparada para enfrentar a ameaça do exército de sugadores prontos a atacar a qualquer momento. Essa tática de guerra ajuda a manter afastados os mosquitos mal intencionados, mas também destrói qualquer chance de aproximação romântica. Enfim, não se pode ter tudo na vida.

O mundo é cheio de perigos. O Rio de Janeiro, então, nem se fala. Mas hoje, sinceramente, tenho muito mais medo do mosquito da dengue do que de ladrão.

Siomara Spinola
06 de fevereiro, 2013