terça-feira, 22 de maio de 2012

Antissocial?

Antissocial


Por Ruy Castro

Folha de S. Paulo, 18 de maio de 2012.

RIO DE JANEIRO - No mínimo, três ou quatro por dia. São os convites eletrônicos que recebo para me tornar "amigo" de fulano ou para "fazer parte de sua rede profissional". São convites amáveis, endereçados a mim pelo primeiro nome. Mas, apesar do tratamento personalizado, têm um ar de mensagem disparada a 100 ou 200 pessoas ao mesmo tempo.
Sempre que recebo esses convites, embatuco. Não tenho Facebook, nem sei como funciona, e as únicas redes profissionais a que pertenço são as empresas a que presto serviços como escritor ou jornalista. Não sei, por exemplo, qual é a "rede profissional" de um querido amigo que, aos 70 anos, nunca teve uma carteira de trabalho assinada, nem acordou como assalariado um único dia em sua vida -e ele me convidou a me juntar à sua "rede".
Como não sei para que servem essas redes, também não sei o que responder e, pior, temo que tais mensagens sejam pegadinhas marotas contendo vírus. Assim, ou as apago ou deixo que morram de velhice na lista de mensagens. O problema é que, com isso, posso estar passando por esnobe ou antissocial para quem se deu ao trabalho de me convidar a ser seu "amigo" ou juntar-me à sua "rede".
O ridículo é que os que me convidam a tornar-me "amigo" deles já são meus amigos. Têm meu telefone, sabem onde moro, já saímos juntos para pândegas, discutimos futebol, fomos até sócios no passado e, se calhar, um tomou a namorada do outro e vice-versa. Então, por que tal formalismo engessado?
Acredito que os programadores dessas maravilhas eletrônicas tenham pouca prática de vida real. Por serem muito jovens e já terem nascido com um mouse na mão, talvez não saibam que as relações humanas podem se formar a partir de um encontro casual, um aperto de mão, um brilho no olhar.



sexta-feira, 18 de maio de 2012

Para quem quiser conhecer, segue atalho para visualização do meu livro
História Rio de Janeiro:

http://www.abrileducacao.com.br/pnld2013 - Regionais História - Rio de Janeiro


quinta-feira, 17 de maio de 2012



Pensamento do dia


"A liberdade é mais importante do que o pão."


(Nelson Rodrigues)

sábado, 24 de março de 2012

Texto autoexplicativo

"Um cronópio encontra uma flor solitária no meio dos campos. Primeiro pensa em arrancá-la, mas percebe que é uma crueldade inútil, e se coloca de joelhos junto dela e brinca alegremente com a flor (...)
Um fama entra pelo bosque e embora não precise de lenha olha ambiciosamente para as árvores. As árvores sentem um medo terrível porque conhecem os hábitos dos famas e temem o pior. Entre elas há um belo eucalipto, e o fama ao vê-lo dá um grito de alegria e dança trégua e dança catala em torno do perturbado eucalipto, dizendo assim:
- Folhas antissépticas, inverno com saúde, grande higiene.
Puxa um machado e bate no estômago do eucalipto sem se importar com nada. (...)"

Júlio Cortázar. Histórias de cronópios e de famas.

sexta-feira, 2 de março de 2012

A verdadeira vocação feminina é ser dona do próprio desejo

Diante da declaração do senhor Felipe Pondé, que se apropriou de forma indevida e oportunista de uma frase de Nelson Rodrigues para tentar convergir para ele as atenções, talvez a melhor atitude a tomar fosse simplesmente ignorar. O Pondé não está com essa bola toda, como ele acredita ou pretende, talvez daí essa necessidade de querer chamar a atenção e provocar polêmica a tudo custo. O problema da infeliz e equivocada afirmação ("Assim como a prostituta é a primeira vocação da mulher, afirmo: sou lido, logo existo") é que ela coloca a mulher como objeto do desejo do outro, e não do próprio desejo. Aí é que está a questão. Não se trata de reprimir o desejo, mas de ser dona do próprio desejo, não de atender a um desejo masculino, como é o caso da prostituta. Temos aí uma diferença muito grande. A prostituição não é uma "vocação" feminina, como esse pretenso "filósofo" supõe, mas uma criação masculina que está arraigada no imaginário dos homens. De fato, as coisas não mudaram com o passar do tempo, porém trata-se de uma outra questão. Trata-se, isto sim, de que, apesar da "liberação" feminina, a mulher ainda não conquistou o direito ao próprio desejo, mas continua submetida, na maior parte das vezes, ao desejo masculino. Esse é o ponto capital. O desejo feminino ainda é mal visto e, quando expresso, é sempre vinculado à prostituição, ou seja, à ideia de uma mulher submissa aos caprichos e vontades do "macho dominante". Faça-me o favor!

domingo, 8 de janeiro de 2012